Você encontrará trechos do filme no YouTube. Bom proveito, vale a pena ver.
Cartaz do filme Vidas Secas – Herbert Richers
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Vidas secas é o título do
romance do
escritor brasileiro
Graciliano Ramos, publicado em
1938, considerado por muitos como a maior obra do autor.
Estrutura
No que diz respeito à estrutura, o livro apresenta treze capítulos, dentre os quais alguns podem até ser lidos em outra ordem (
romance desmontável), que não a impressa no livro. Entretanto, alguns capítulos, como o primeiro, "mudança", e o último, "fuga", devem ser lidos nesta ordem. Esses dois capítulos reforçam a ideia de que toda a
miséria que circunda os personagens de "Vidas Secas" representa um ciclo, em que, quando menos se espera, a situação se agrava e a família é obrigada a se retirar, repetidas e repetidas vezes.
A obra de Graciliano pode ser considerada um marco para a
literatura brasileira, em especial o Modernismo Brasileiro, visto que há a implícita (e, em alguns casos, até explícita) crítica social a toda pobreza no
sertão nordestino, que atinge uma boa parcela da população, e que, de fato, acaba por prejudicar todo o país, impedindo maiores desenvolvimentos. Há a tentativa, portanto, de se mostrar a desarticulação dessa região com o resto do país (um Brasil pobre dentro de todo o Brasil).
O próprio título da obra, se analisado corretamente, nos dará pistas importantes da mensagem que Graciliano quer passar: "Vidas" se opõe a "Secas" pois a primeira tem sentido de abundância, enquanto, a segunda, de vazio, de falta, configurando um
paradoxo (ou "oxímoro", oposição de ideias resultando em uma construção de sentido ilógico). Além disso, denotativamente, o adjetivo "secas" se refere a "vidas", e, dessa forma, teria o sentido de que a família sofre com a seca. Por outro lado, conotativamente, pode-se relacionar aquele adjetivo a uma vida privada, miserável.
Referências
Curiosidades
O romance originalmente se chamaria "O Mundo Coberto de Penas", título do penúltimo capítulo, em referências às penas negras dos corvos cobrindo o chão seco. O texto original está grafado assim. Porém o próprio Graciliano Ramos riscou o título original e escreveu à mão "Vidas Secas".
Fabiano e família (personagens)
Fabiano,
Sinhá Vitória, o
menino mais velho, o
menino mais novo e a cachorra
Baleia são os protagonistas do romance
Vidas Secas – narrativa dos sertanejos retirantes da
seca e seus dramas sociais, publicado por
Graciliano Ramos em
1938.
O casal, Fabiano e Sinhá Vitória, representa o núcleo da trama: Fabiano mantém-se fiel a seus hábitos de
vaqueiro - é uma extensão do animal, totalmente adaptado ao cavalo e à roupa de couro. No lado oposto, Sinhá Vitória também guarda o poder de adaptação às piores condições materiais, mas vive enaltecendo uma figura, para ela exemplar, o seu Tomás da bolandeira, um homem que sabia ler e tinha uma cama de couro. Para Fabiano o amigo é um vencido num meio em que apenas a parte animal é válida:
"Dos homens do sertão o mais arrasado era seu Tomás da bolandeira. Por quê? Só se era porque lia demais".
Fabiano
Fabiano é uma pessoa que se ligou de maneira visceral ao meio. Ele se orgulha de sobreviver à seca e de fazer parte de uma paisagem que só admite os mais resistentes: ora exalta-se com secreta satisfação:
”Fabiano, você é um homem”; ora, se reconhece como a um animal:
“Você é um bicho, Fabiano”, e o orgulho logo passa para a dúvida - quando pensa ser uma coisa da fazenda, um traste que possui apenas as perneiras, o gibão, o guarda-peito e o sapato de couro cru que, ao ser demitido, seria do vaqueiro que o substituísse.
Vaqueiro, rude, curto das idéias, sem instrução e sem capacidade de entendimento, Fabiano não tem planos e vive a procura de trabalho. Bebe muito e perde dinheiro no jogo. Sua auto-imagem varia de acordo com a situação e seu ânimo diante da dificuldade: quando se reconhece um homem e sente orgulho, Fabiano é a afirmação do indivíduo que se sobrepõe às dificuldades. Quando se reconhece um animal, ganha relevância o ser impessoal de existência desumana. Ao avistar Baleia – num momento de comunhão, envolvido na tragédia de pertencer à mesma realidade do animal, Fabiano conclui:
“Você é um bicho, Baleia”.
Fabiano tenta, mas não consegue se comunicar. Como os animais, a família de Fabiano praticamente não tinha linguagem. Contando apenas com o instinto de sobrevivência, ele – um cabra vermelho, curtido pelo sol, é vencido por um soldado raquítico que desafia-o para uma partida de baralho. Humilhado, Fabiano chega a ser preso e não consegue se defender: a fragilidade de linguagem impede a possibilidade de divulgar a injustiça que sofrera e ele lamenta viver como um bicho, sem ter freqüentado a escola.
Sinhá Vitória
Sinhá Vitória, mulher de Fabiano, vive sua sina, sempre atenta aos sinais, estremece lembrando-se da seca, mas logo afasta a recordação, temendo que ela se realize, e reza baixinho. Esperta, sabe fazer conta, previne o marido sobre os trapaceiros e enganadores. Tem consciência da condição em que vivem, mas também tem planos e sonha. O maior dos seus sonhos é ter uma cama de couro, igual àquela de seu Tomás da bolandeira. Para o marido, um sonho impossível. "Cambembes podiam ter luxo?"
Além de cuidar dos filhos e da tapera, Sinhá Vitória ajuda o marido nas tarefas. Trabalha duro e, às vezes fica brava e briga com o marido, reclamando daquela vida embrutecida, sem ter sequer uma cama para dormir.
"Pensou de novo na cama de varas e mentalmente xingou Fabiano. Dormiam naquilo, tinham-se acostumado, mas seria mais agradável dormirem numa cama de lastro de couro, como outras pessoas." Briga com o marido, reclama que ele gasta muito com jogo e cachaça. Ressentido, Fabiano condena os sapatos de verniz que ela usava nas festas, "caros e inúteis" que a deixavam trôpega.
Por fim, quando nova seca se anuncia, Sinhá Vitória impele Fabiano a pensar no destino da família e, fazendo uma leitura da realidade, diz que os pássaros de arribação vão matar o gado. O marido fica intrigado. Como criaturas pequenas podem destruir animais como os bois, tão fortes quanto ele? Tentando impor o seu mundo até o fim, diz que os meninos iriam vaquejar como ele. Sinhá Vitória explode:
"Nossa Senhora os livrasse de semelhante desgraça. Vaquejar, que idéia! Chegariam a uma terra distante, (...) adorariam costumes diferentes".
No final, o desejo "vitorioso" de Sinhá Vitória: rumo à cidade grande, Fabiano imagina as dificuldades pelas quais passarão, mas também pensa os
"meninos na escola, aprendendo coisas difíceis e necessárias".
Os meninos
Fabiano acha que eles devem assumir a forma de
tatu – animal integrado à terra, com casco duro, protetor. Sinhá Vitória sonha com uma vida melhor para os filhos – possibilidade distante da identidade animal do marido, e pensa no homem que sabia ler e tinha uma cama de couro, mas que foi vencido pela seca. Queria para os filhos uma terra distante, um outro jeito de ser, outros costumes.
O menino mais novo admira os hábitos do pai quando ele cavalga totalmente adaptado ao cavalo - qual uma figura lendária, e tenta imitá-lo, absorvendo um pouco daquela grandeza que os tirava da vida resignada que levavam.
O menino mais velho, ao contrário, a lida de vaqueiro não o fascina. Ele deseja descobrir o sentido das palavras e recorre à mãe – porção mais “intelectual” da família, que freqüentemente o afasta, por não ter explicações para dar.
Os dois meninos, anônimos, vivem a brincar com Baleia em redor da tapera. Raramente procuram os pais, por receio de tomarem cascudos.
A primeira visita dos meninos à vila foi durante uma festa. Eles se assustaram com a variedade de coisas que existia no comércio bem sortido. Deslumbrados com a possibilidade de tudo aquilo ter um nome, uma existência. A dúvida do menino mais novo é se as coisas tinham nome e se os nomes eram uma criação humana ou divina. Ao serem excluídos da posse de objetos, os meninos são também excluídos da posse das palavras que os representam. Esta a maior pobreza, a falta da linguagem, por limitar as crianças a um mundo sem ultrapassagem pela imaginação.
Trepado na porteira do
curral, o menino mais novo observa o pai tentando dominar uma
égua brava. Feliz, planeja fazer algo grandioso um dia, quando crescer. Assim, então, seria admirado pelo irmão e por Baleia.
O menino mais velho é curioso. Ao ouvir a palavra "
inferno", durante uma conversa de Sinhá Terta com a mãe, quis saber o significado. Sinhá Vitória referiu-se vagamente a um certo lugar ruim. O menino não compreende como uma palavra tão bonita pode significar "coisa ruim". Pergunta ao pai, que o repele. De novo, insiste com a mãe que, zangada, aplica-lhe um cocorote. O menino mais velho não se conforma. Indignado, se consola com a amiga Baleia:
"O pequeno sentou-se, acomodou nas pernas a cabeça da cachorra, pôs-se a contar-lhe baixinho uma história". Melancólico, e apesar do vocabulário limitado, o menino mais velho se abraça à Baleia e fala do mundo, das estrelas, do céu e do inferno.
Baleia
A cachorra Baleia é um membro da família. Pensa, sonha e age como gente. Solidária, Baleia participa das aventuras e dificuldades da família de retirantes; chega a se contentar, mesmo que faminta, apenas com os ossos de sua caça.
Aproximada a seres que vivem como bichos, a cachorra é humanizada. No inverno, é quando a família experimenta algum aconchego, reunidos em torno do fogo: Fabiano sentado no
pilão, Sinhá Vitória acolhe os meninos no colo, e a cachorra Baleia
"com o traseiro no chão e o resto do corpo levantado, olhava as brasas que se cobriam de cinzas".
Ao ser sacrificada, por suspeita de
cólera, Baleia vislumbra o
"céu dos cachorros, cheio de preás".
Trecho do filme Vidas Secas (1963) de Nelson Pereira dos Santos
Aproveitem, boa leitura e bons exames
Teacher Josiani