A desintegração do Império Romano do Ocidente no final do século V da era cristã marca o fim da Idade Antiga.
A Antiguidade Tardia, ou o que chamamos de Alta Idade Média, é um período de instabilidade e insegurança generalizada. Saques, incêndios, raptos e roubos.
A população do que havia sido o Império Romano do Ocidente vivia aterrorizada.
Os mares, do norte e do sul, estavam infestados de piratas. O Mediterrâneo deixou de ser romano para tornar-se árabe. Partindo da Escandinávia, os normandos realizavam incursões de saque e pilhagem nas costas do mar do Norte, do Báltico e até do Mediterrâneo.
O Mundo romano depois da queda do Império Romano do Ocidente.
O império cristão deixou uma instituição que reinou durante uma boa parte da Antiguidade Tardia e durante a Idade Média: a Igreja. Nesse quadro de insegurança generalizada, a Igreja oferece certa paz. Homens e mulheres se refugiam em conventos e lá criam um mundo auto-suficiente ou tomam um senhor de guerra como protetor e se refugiam em seus castelos. O mundo feudal substitui o mundo romano. A Igreja feudal salva suas almas. Em pouco tempo, ficou reduzida à Igreja de Roma, rompendo com os patriarcas de Bizâncio, a antiga Constantinopla.
As guerras, a partir de certo momento, tornam-se “guerras santas”, de fiéis contra infiéis, de cristãos contra hereges e pagãos. As cruzadas cristãs e o Jihad muçulmano lutam como haviam lutado gregos e persas. No Oriente, Bizâncio resiste ao assédio de árabes e turcos. No Ocidente, a Igreja de Roma realiza a passagem entre o mundo romano e o mundo das monarquias cristãs e nacionais que se consolida durante a Baixa Idade Média (1066-1453).
O Império do Oriente e o mundo eslavo
Enquanto o Império Romano do Ocidente caía sob domínio germânico, o Império do Oriente serviu como escudo dos ataques de povos asiáticos contra a Europa. Além de se tornar depositário da cultura greco-latina, o império bizantino projetou sua cultura nos países povoados pelos povos eslavos.
O mundo bizantino
Após a invasão do Império Romano do Ocidente pelos povos germânicos, Constantinopla continuou à frente do mundo romano. Constantinopla, ou Bizâncio, foi a capital do Império Romano do Oriente durante toda a Idade Média.
É importante recordar por que o império continuava sendo romano:
- A organização administrativa seguia os padrões criados por Roma;
- O Império do Oriente utilizava as leis romanas, criadas ao longo de mil anos;
- A cultura romana do período final, antes das invasões germânicas, foi preservada pelo Oriente.
Após a morte de Teodósio (395), o Império Romano do Oriente foi governado por imperadores que não conseguiram reagir às invasões dos povos germânicos. No século V, entretanto, o imperador Justiniano tenta, pela última vez, reconstruir o Império Romano, reconquistando os territórios do Ocidente.
Justiniano
Justiniano mosaico bizantino.
Justiniano assumiu o trono do Império do Oriente em 527. Empenhou todas as suas forças na tentativa de ressuscitar o Império Romano:
- Invadiu o norte da África e expulsou os vândalos de lá em 533.
- Suas tropas atravessaram o estreito de Gibraltar e atacaram os visigodos.
- As legiões romanas reconquistam o sul da península Ibérica.
- Os persas se sublevaram e derrotaram o exército de Justiniano, comprometendo-se a abandonar as armas, desde que o imperador lhes pagasse um custoso tributo anual, piorando a situação financeira do império.
- Na Macedônia, as legiões romanas tiveram de enfrentar uma nova invasão de povos asiáticos, os ávaros e os búlgaros, que em várias ocasiões chegaram até as muralhas de Constantinopla.
O “Código Justiniano”
Quando assumiu o trono, Justiniano encomendou uma revisão das leis romanas a partir do Edito Perpétuo, promulgado por Adriano em 121, procurando harmonizá-las com a doutrina cristã, religião oficial do império. Em 530, o “Código Justiniano” foi promulgado. Esse código transformou-se na base jurídica do Império do Oriente e de todo o Ocidente. Roma continuou regendo o mundo com suas leis.
Bizâncio
Após a morte de Justiniano, em 565, seguem-se dois séculos de decadência e violência.
- A Itália é invadida pelos lombardos.
- Os visigodos reconquistam o sul da península Ibérica.
- O norte da África cai nas mãos dos árabes.
- Os persas ameaçam constantemente.
A partir do ano 1000, o império bizantino experimenta um período de esplendor e torna-se o centro de irradiação da cultura helenística para os países eslavos, ou seja, para a Rússia, a região dos Bálcãs e a Europa central.
Constantinopla era cercada de muralhas
O escudo da Europa
Muralhas de Constantinopla hoje Istambul - Túrquia.
A existência do Império Bizantino protegeu a Europa dos ataques dos persas, búlgaros, árabes e turcos. Essa proteção permitiu a formação de estados nacionais na Europa ocidental.
Bizâncio resistiu aos ataques dos povos asiáticos durante oito séculos.
Em 1400, os imperadores bizantinos tornam-se vassalos dos sultões turcos.
Em 1453, as tropas de Maomé II entram em Bizâncio: era o fim do Império
Romano do Oriente.
A cultura bizantina
Durante a Idade Média, a cultura do Império Bizantino foi a mais brilhante de toda a Europa. Os bizantinos conservaram as obras clássicas da cultura grecoromana.
A produção dos padres da Igreja grega somou-se a um patrimônio cultural milenar.
- O Império Bizantino foi uma grande potência militar. Suas tropas, formadas por soldados estrangeiros, eram menos disciplinadas que as legiões romanas. Sua marinha foi invencível durante séculos. O “fogo grego”, flechas ardentes que eram utilizadas para incendiar as embarcações inimigas, foi invento bizantino.
- Economicamente, o Império Bizantino foi o centro do comércio mundial durante a Idade Média, pois realizava a ponte entre os povos do Extremo Oriente e do Oriente Médio e o Ocidente.
- A arte bizantina criou um estilo original, combinando harmoniosamente elementos gregos, romanos e orientais. Seus mosaicos são admirados ainda hoje.
Por volta do ano 800, Carlos Magno, o mais poderoso dos reis germânicos da época, foi proclamado imperador romano. Seu sonho era reconstruir a unidade do império. Pouco depois de sua morte, a Europa tornou-se um quebra-cabeça de Estados feudais. Carlos Magno anuncia, de certa forma, o fim da instabilidade dos reinos neolatinos. Mas a Europa ainda conheceria outra onda de invasões provenientes da Escandinávia e da Ásia.
O reino franco
Os Francos eram um dos povos germanos que penetraram no Império Romano do Ocidente. Estabeleceram no território da Gália por volta do século V. Os Francos eram divididos em várias tribos e foram unificados por Clóvis, dando início à dinastigia Merovíngia (em homenagem ao seu avô Meroveu).
O reino franco foi criado por descendentes do rei Meroveu, os merovíngios (apelidados de reis indolentes).
Não governavam diretamente: os verdadeiros governantes eram os “mordomos reais” do palácio.
Um desses mordomos, Pepino, o Breve, se proclamou rei dos francos. Com ele, começou a dinastia dos carolíngios. Para fortalecer o reino, Pepino selou alianças com a Igreja, guardiã da ordem e da cultura nessa época.
Os Estados Pontifícios
Com o desmoronamento do Império Romano do Ocidente, a península
Itálica tornou-se o campo de batalha entre os lombardos e os bizantinos. Roma havia sido praticamente abandonada e sua defesa era feita por poucos senhores e o bispo, chamado tradicionalmente de Papa.
Em 756, o Papa viu-se ameaçado pelos lombardos e pediu auxílio aos cristãos. Pepino atendeu ao apelo, derrotou os lombardos e lhe ofereceu um território na província de Ravena: o Papa agora tinha seu domínio particular.
Foi assim que surgiram os Estados Pontifícios, ou seja, os Estados da Igreja.
Carlos Magno (768-814)
Filho de Pepino assumiu o trono do reino franco em 768. Imediatamente,
Carlos Magno começou a executar a unificação de todo o Ocidente cristão. Lutou contra todos os seus vizinhos e empreendeu mais de 50 campanhas militares derrotando:
- Os saxões - anexou a Saxônia, atualmente na Alemanha;
- Os ávaros - formou a “Marca do Leste”, ou Áustria.
- Os árabes na Espanha - criando a “Marca da Espanha”.
O novo império
Carlos Magno na coroação.
No ano 800 o Papa Leão III o coroou imperador dos romanos. A partir desse momento, os cristãos da Europa ocidental estavam submetidos a dois poderes que se complementavam.
- O poder civil, na pessoa do imperador.
- O poder espiritual, na figura do Papa.
O governo imperial
Carlos Magno dividiu o império em 300 províncias, que passaram a ser governadas por condes. As províncias de fronteira, as “marcas”, eram governadas por marqueses e duques. Para fiscalizar a administração destes, Carlos Magno criou os inspetores.
Uma Assembléia, da qual faziam parte colaboradores do imperador, reunia- se uma vez por ano para fixar as metas de governo. Essas reuniões, chamadas de campos de maio, pois ocorriam no mês de maio, originaram uma coleção de leis, as leis capitulares.
Para recompensar aqueles que o ajudavam, o imperador distribuía terras.
Esses benefícios deram origem ao sistema feudal.
O renascimento carolíngio
A grande conquista de Carlos Magno foi no campo da cultura. Seu reinado assistiu ao renascimento das letras e das artes.
- Instituiu a escola obrigatória e gratuita nas aldeias, junto às igrejas.
- Também “importou” sábios de vários lugares: graças a eles e aos monges que copiaram manuscritos, obras da Antiguidade clássica chegaram até nós.
Quando morreu, em 814, Carlos Magno foi sucedido pelo filho Luís, o Piedoso. Este dividiu o império entre seus filhos, que o destronaram e iniciaram uma guerra civil.
Aproveitando a confusão, condes, marqueses e outros senhores de terras começaram a discutir seus direitos com os reis. O resultado dessas disputas foi que a nobreza de terras deixou de obedecer aos reis e lhes tomou os poderes, tornando-se praticamente independente. Senhores fortes e reis fracos: foi o saldo das guerras civis.
Após a morte de Luís, seus filhos entraram em acordo e assinaram um pacto.
No Tratado de Verdun, assinado em 843, dividiram o império de Carlos Magno em três partes.
- Carlos, o Calvo, ficou com a França.
- Luís ficou com a Germânia.
- Lotário recebeu a Itália, a coroa imperial e uma faixa de terras entre a França e a Germânia.
O fim dos carolíngios
Desse processo, nasceram dois Estados: a França e a Alemanha. Apesar disso, seus reis foram incapazes de manter a unidade e tiveram de se submeter às vontades dos nobres.
O fracasso da unificação: as novas invasões
As monarquias, entretanto, ficariam numa situação muito mais debilitada.
A invasão de dois povos contribuiu para enfraquecer o poder dos reis e destruir a ordem que Carlos Magno havia criado:
- Os normandos, ou vikings, saquearam a Europa por duzentos anos, conseguindo tomar terras da Rússia, da França, do sul da Itália e toda a Inglaterra.
- Os húngaros, aproveitando a debilidade das monarquias, atacaram os reinos da Germânia, França e Itália.
Com as invasões desses dois povos, a insegurança das populações européias aumentou. Os reis eram incapazes de defender as pessoas dos ataques normandos e húngaros. Cada vez mais, as populações buscam proteção na nobreza territorial.
Em troca dessa proteção, juravam prestar fidelidade e ajuda mútua aos senhores.
Foi assim que surgiu o feudalismo, o sistema que regeu a vida social em quase toda a Europa desde a morte de Carlos Magno até o final da Alta Idade Média, no começo do século XIII.
Exercícios
· Exercício 1: Descreva como era o governo no Império Carolíngio.
· Exercício 2: Que diferenças havia entre o Império Romano do Ocidente e o do Oriente?
· Exercício 3: Quais os legados que o império bizantino nos deixou?
AULA 11 do Telecurso – texto para acompanhar.
Assista os vídeos:
Telecurso Vídeo 1/2
Telecurso Vídeo 2/2
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