terça-feira, 31 de maio de 2011

O Sacro Império Romano – Germânico e o cristianismo feudal

Texto sobre a A U L A 14  TELECURSO

Com o fracasso da unificação tentada pela Igreja e por Carlos Magno, o poder dos senhores de terras locais aumentou.
A isto soma-se o fato de as populações terem sido arruinadas e atemorizadas pelos ataques dos árabes, normandos e húngaros. A atividade econômica limitou-se à exploração dos campos. Durante mais de trezentos anos, a Europa esteve fragmentada em centenas de pequenos Estados independentes, os feudos.
A comunicação era escassa e cada feudo sobrevivia a partir daquilo que seus habitantes produziam. Foi a “época dos mundos fechados”.

A escala feudal
Quando os germanos invadiram o Império Romano do Ocidente, distribuíram as terras entre seus guerreiros. Estes atuavam como donos absolutos de seus territórios.
Após a morte de Carlos Magno os reis se mostraram incapazes de defender seus súditos. Os senhores das terras organizaram a defesa de suas propriedades por conta própria, ou seja, com exércitos particulares que eles mantinham e organizavam.
A Europa conheceu um novo estilo de vida. As cidades foram abandonadas ou achavam-se decaídas: o único bem que interessava era a terra. A insegurança generalizada levava seus donos a protegê-las dos invasores. Para tanto, procuravam a proteção dos senhores de terras mais fortes e poderosos.
Os habitantes mais pobres pediam proteção ao dono do castelo mais próximo.
clip_image001Este, por sua vez, com medo de ser atacado por um inimigo mais forte, estabelecia vínculos com outros senhores, condes ou marqueses que reconheciam a superioridade de algum príncipe ou grão-duque. No alto dessa pirâmide, pelo menos em teoria, estava o rei. Na prática, o rei só exercia autoridade sobre seus domínios particulares.
Aos poucos, perdeu-se a noção de Estado. A autoridade era exercida pelos donos das propriedades.

Homenagem e benefício: senhores e vassalos

O vínculo entre aquele que pedia proteção e o que protegia ocorria numa cerimônia chamada de homenagem. Nessa cerimônia, aquele que pede proteção ajoelha-se para o protetor e se declara seu vassalo. Isto significa que o reconhece como senhor, ao qual jura fidelidade e confia suas terras. O senhor aceita a vassalagem e lhe promete proteção, entregando-lhe um benefício, ou seja, lhe devolvia as terras ou lhe doava outros bens, tais como terras, moinhos e direitos sobre rios ou estradas.
A entrega do benefício se materializa na cerimônia de investidura, em que o senhor colocava nas mãos do vassalo um objeto simbólico. Os benefícios eram chamados de feudos, palavra derivada de “foedum”, em germânico antigo.
A cerimônia de investidura estabelecia deveres e direitos entre o senhor e o vassalo.
· O vassalo devia ao senhor assistência, fidelidade e conselho.
clip_image002· O senhor obrigava-se a proteger e cuidar de seu vassalo.
O sistema se estendeu rapidamente: em meados do século IX, quase todos os europeus eram vassalos de algum senhor.
E todos os bens eram benefícios ou feudos de alguém.
O dono de um feudo exercia autoridade de soberano sobre seu território:
· Cunhava moeda;
· Tinha exército próprio;
· Declarava a guerra;
· Administrava a justiça;
· Cobrava impostos.

A sociedade feudal

A sociedade feudal era dividida em duas castas: os senhores e os vassalos, geralmente camponeses ou artesãos.

Os senhores: a cavalaria

Os senhores constituíam a classe privilegiada. Eram os terratenentes, os donos de campos e castelos. Sua única limitação era serem vassalos de algum outro senhor. Por causa disso, havia uma divisão dentro de sua própria casta.
· A alta nobreza era formada por duques, marqueses e viscondes.
· A pequena nobreza era formada por simples senhores de terras, cavaleiros e barões.
Os senhores feudais tinham uma educação militar, pois viviam para a guerra e para os lucros que esta trouxesse. A carreira de cavaleiro iniciava-se cedo: o aspirante começava como pajem ou criado de algum cavaleiro. Aos 14 anos tornava-se escudeiro. Aos 20, era sagrado cavaleiro. Quando não estavam em guerra, os cavaleiros passavam o tempo disputando torneios, uma espécie de combates simulados.

Os camponeses: a servidão

A servidão era a outra face do feudalismo. Os servos da gleba eram quase escravclip_image004os. Eles e suas famílias estavam presos à terra e só adquiriam a liberdade. mediante um pagamento, o que era muito difícil. Sofriam a injustiça e a miséria.
A grande massa da população rural mantinha os privilégios dos senhores com seu trabalho no campo. As revoltas contra os senhores eram freqüentes e terminavam após lutas sangrentas.
Além dos camponeses, presos à terra por laços de vassalagem, havia também os vilões que moravam nas vilas e aldeias. Estes trabalhavam para um senhor, mas conservavam a liberdade pessoal.
A sociedade feudal vivia um precário equilíbrio. Qualquer imprevisto, uma colheita insuficiente ou impostos excessivos, detonava reações violentas.

A Igreja feudal


Durante esse período, a Igreja também se feudalizou. Bispos e abades tornaram-se senhores de terras. A conseqüência disso foi que mosteiros e igrejas se transformaram em unidades de produção agrícola. Os mosteiros beneditinos de Cluny, na França, foram exemplo de organização. Seu modelo foi copiado por muitos mosteiros.
A Igreja feudal também adotou os defeitos do sistema: bispos e abades dependiam da nomeação do rei ou de algum grande senhor. Estes, muitas vezes, elegiam parentes e amigos. Durante esse período, a venda de cargos na Igreja, a simonia, era muito comum.

As novas heresias

As reações contra a situação da Igreja feudal não demoraram. Em vários lugares, surgem tentativas de reforma dos dogmas, os ensinamentos oficiais da Igreja.
· Cátaros e albigenses pregam a rejeição à Igreja a partir de Alby, no sul da atual França. O movimento se expande e assume proporções de uma revolução social. Protegidos pelo conde de Toulouse, bandos de fanáticos queimam aldeias e castelos e massacram os habitantes. Em 1208, após o assassinato do enviado papal, Inocêncio III convocou uma cruzada contra os albigenses. O movimento foi sufocado depois de vinte anos de lutas sangrentas.
· Até o século XII, a Igreja castigava os hereges com o desterro e a prisão.
Em 1231, o papa Gregório IX cria o Tribunal da Inquisição. A principal função desse tribunal era “inquirir” e punir as doutrinas contrárias aos dogmas da Igreja. O tribunal do Santo Ofício, como passou a ser chamado, se estabeleceu na França e na Germânia. A ação do tribunal se estendeu rapidamente pelos reinos cristãos.

O cisma grego

Além dos problemas internos provocados pelos protestos que surgiam, a Igreja teve de enfrentar a divisão, resultado da crescente tensão entre a Igreja de Roma e a Igreja bizantina, que culmina, em 1054, com a separação das duas
Igrejas.

Os Papas reformistas

Três Papas realizaram reformas para combater a desordem da Igreja de Roma:
· Nicolau II (1058-1061) regulamentou a eleição dos papas pelos cardeais. Até 1059, estes eram eleitos pelos senhores feudais mais poderosos.
· Gregório VII (1073-1085) submeteu o imperador do Sacro Império Romano-Germânico à autoridade papal e foi responsável pelo apogeu da Igreja de Roma. Proclamou o celibato dos padres, proibiu as simonias e deu ao papado o direito de nomear e demitir os bispos e até os reis.
· Inocêncio III (1198-1216) completou as reformas internas da Igreja iniciadas por Nicolau II e Gregório VII, visando afastá-la do poder secular. Com ele, o papa torna-se representante de Cristo na terra; por meio dele, os soberanos laicos recebem seus feudos e reinos.

A reforma dos mosteiros

O movimento renovador iniciado por estes papas se refletiu também na vida dos mosteiros. O movimento partiu de Cluny e se alastrou por toda a Europa.
O mosteiro de Cister pregava uma volta aos ensinamentos de são Bento, fundador da Ordem Beneditina, com mais disciplina e severidade.

As ciências e as artes

Durante a maior parte da Idade Média, os mosteiros eram os únicos centros de cultura existentes na Europa. Manuscritos e obras da Antiguidade clássica eram preservados e copiados pelos monges, escribas de uma sociedade de analfabetos.
Com o crescimento das cidades, surgiu a necessidade de novos centros de cultura, já que os mosteiros ficavam muito longe.

As universidades

Inicialmente, as universidades surgiram perto das catedrais e estavam vinculadas à Igreja, detentora do saber durante toda a Idade Média. Além das matérias “clássicas” ensinadas nos mosteiros, como a matemática, a retórica, a dialética, a geometria, a astronomia, e a música, as universidades iniciam o ensino do direito e da medicina.
Estudantes e professores logo se organizaram em corporações e grêmios.
Graças a essa organização, as universidades logo conquistaram o privilégio da autonomia perante os reis e o Papa.
A primeira universidade, fundada em Bolonha em 1158, por Federico Barbarossa, especializou-se no ensino do direito imperial romano.
Em pouco tempo, fundaram-se universidades em Salerno, Paris, Oxford, Cambridge, Coimbra e Salamanca.

A escolástica

Nesse momento, surgiram pensadores que procuravam harmonizar o pensamento de Aristóteles com os princípios cristãos. Destacam-se as obras de Santo Alberto Magno, sábio alemão e professor de teologia em Paris, e Santo Tomás de Aquino, considerado a figura intelectual mais notável da Idade Média e autor da Suma teológica.

A arte românica

Com o fim das invasões e a estabilização da sociedade feudal, surge um estilo arquitetônico chamado de românico. O românico utiliza elementos criados pelos romanos, tais como o arco e a semicircunferência. Suas sólidas construções, castelos, pontes, igrejas e mosteiros, caracterizam o estilo da época feudal.

O Sacro Império Romano-Germânico

A criação do Sacro Império Romano-Germânico constituiuSacro Império Romano-Germânico mais uma tentativa de unificar a Europa patrocinada pela Igreja. O entendimento entre o Papa e o imperador fracassou por causa da disputa de poder entre a Igreja e o Império.
Nessa luta, nenhum dos dois lados levou vantagem. O resultado foi o enfraquecimento de ambos.

O reino germânico

Após a morte de Carlos Magno, o reino germânico foi dividido em muitos
Estados independentes chamados ducados e marcas. Em 910, Conrado, duque da Francônia, foi eleito pelos senhores feudais para ocupar o trono da Germânia.
Era o início do Sacro Império. Apesar disso, os reis alemães estiveram constantemente em conflito com os senhores feudais e com o maior poder organizado da Idade Média: a Igreja Católica.
Em pouco tempo, ficou claro que cada qual procurava intervir nos assuntos internos do outro. Igreja e Império lutaram durante 200 anos para ver qual dos dois era mais poderoso. A disputa terminou com a liquidação política de ambos.

A reforma da Igreja

A Igreja teve seus poderes comprometidos por causa da constante intervenção dos senhores feudais e do imperador. Era necessário tornar a Igreja independente e restaurar a disciplina interna, pois senhores e príncipes intervinham na distribuição de cargos eclesiásticos.
A reforma da Igreja começou com o papa Nicolau II. Ele regulamentou a eleição dos papas pelos cardeais. Ao retirar esse privilégio do imperador, a Igreja desafiou o poder imperial.

Igreja versus Império

Eleito pelo novo sistema, o papa Gregório VII pretendia restaurar a autoridade do papa sobre os reis e príncipes cristãos. Para tanto, convocou um concílio para proibir a intervenção de civis nos assuntos internos da Igreja, sob pena de excomunhão. Os clérigos que aceitassem cargos oferecidos por civis ou casassem também estavam sujeitos a essa punição.
Para verificar o cumprimento dessas normas, Gregório VII criou um corpo de fiscais, os Enviados Pontifícios. Nesse momento, Império e Igreja entram em conflito frontal.
O imperador Henrique IV desobedeceu ao Papa e continuou distribuindo cargos eclesiásticos. Gregório VII reagiu: pela primeira vez na História, o Papa excomungava um imperador, retirando-lhe o título que havia recebido de suas próprias mãos.
A solução dos conflitos entre Igreja e Império só viria com a Concordata de Worms. Segundo esse acordo, o Papa e o imperador reconheciam a independência mútua de cada um.

O apogeu cristão


Uma vez resolvidos os conflitos entre Igreja e Império, os Papas tornam-se chefes absolutos dos cristãos europeus e se voltam para assuntos internacionais:
A Palestina, local do nascimento e morte de Cristo, estava em mãos dos turcos seljúcidas. O papado organizou uma campanha para libertar o Santo Sepulcro dos hereges.

As cruzadas
clip_image005O Papa Urbano II organizou a primeira expedição à Terra Santa. Em pouco tempo, reuniu um exército de 500 mil guerreiros de todos os países da Europa.
· A primeira cruzada partiu rumo à Palestina em 1096. A cruzada popular, formada por camponeses armados de paus e facas, foi dizimada pelos turcos.
A cruzada dos cavaleiros teve mais êxito. Em 1099, guerreiros cristãos tomam Jerusalém. A vitória incentivou o surgimento de associações de religiosos e militares para defender os “santos lugares”. O Reino Cristão de Jerusalém foi dividido em vários principados feudais. Mas as lutas internas e as divisões entre os príncipes cristãos acabaram isolando os cruzados.
· Cinqüenta anos depois, partiu a segunda cruzada rumo à Terra Santa.
A expedição comandada por Conrado III e Luís VII da França foi derrotada em Damasco.

O apogeu do papado: Inocêncio III

Apesar do fracasso das cruzadas, o papado viveu dias de glória: os papas tornaram-se juízes dos reis e intervinham em assuntos políticos e religiosos.
O Papa Inocêncio III interveio nos lugares em que a ordem cristã estava comprometida.
· Organizou uma cruzada para reprimir hereges no sul da França.
· Ajudou o rei de Castela a combater os muçulmanos na península Ibérica.
· Organizou a quarta cruzada. Partindo no ano 1200, os cruzados tomaram Bizâncio, destronaram o imperador bizantino e estabeleceram um reino latino.
· Organizou a quinta cruzada, em 1215, que fracassou.

Cruzadas:


Primeira Cruzada (1095-1099) O papa convocou os fiéis para a guerra santa contra o Islão no Concílio de Clermont. Partindo em 1096, os cavaleiros sitiaram Nicéia, tomaram Doriléia, Antioquia e Jerusalém. O Oriente Médio passou a abrigar Estados cristãos, organizados à maneira feudal, como o Principado de Antioquia, o condado de Edessa e o reino de Jerusalém.
►Segunda Cruzada (1147-1149) Com a reconquista de Edessa pelos árabes, essa Cruzada foi pregada pelo próprio São Bernardo. No entanto, fracassou por desavença entre seus chefes: Conrado 3º da Alemanha e Luís 7º da França.
►Terceira Cruzada ou Cruzada dos Reis (1189-1192) Foi organizada após a retomada de Jerusalém pelo sultão Saladino, sob a liderança de Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra, Frederico Barba-Ruiva, do Sacro Império, e Filipe Augusto, da França. Após diversos combates, Ricardo assinou um tratado de paz com Saladino, que autorizou os cristãos a peregrinar a Jerusalém.
►Quarta Cruzada (1202-1204) Cruzada marítima contra o Egito, organizada por Henrique 6º da Alemanha, foi financiada pelos venezianos com interesses comerciais. Foi uma cruzada sangrenta, a ponto de os venezianos serem excomungados pelo papa Inocêncio 3º. Mesmo assim, eles saquearam Constantinopla e voltaram à Itália satisfeitos.
►Quinta Cruzada (1217-1221) Formada após a Cruzada das Crianças, que terminou com seus integrantes vendidos como escravos em Alexandria, a quinta Cruzada fez várias ofensivas contra o Egito e retornou a Europa sem sucesso.
►Sexta Cruzada (1228-1229) Frederico 2º, do Sacro Império Romano-Germânico, aproveitou-se das desavenças entre os sultões do Egito e Damasco, para conseguir que os turcos lhe entregassem Jerusalém, Belém e Nazaré.
►Sétima Cruzada (1248-1250) Sob o comando de Luís 9º da França (São Luís), esta cruzada foi um grande fracasso: isolada pelas enchentes do Nilo, teve seus homens dizimados pelo tifo. Luís foi preso e resgatado mediante um valor altíssimo.
►Oitava Cruzada (1270) O Oriente Médio vivia uma época de anarquia entre as ordens religiosas que deveriam defendê-lo, bem como entre comerciantes genoveses e venezianos. Os cristãos foram expulsos de suas posições e Luís 9º organizou uma nova Cruzada. Morreu, porém, ao desembarcar em Túnis e a cruzada foi suspensa.


Cruzadas
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O fim da luta: Frederico II

Na condição de imperador do Sacro Império Romano-Germânico e rei das Duas Sicílias, Frederico II pretendia unificar seus domínios. Para realizar esse desejo, teve de enfrentar o Papa, protetor da independência das cidades do norte da Itália.
Frederico se dispôs a organizar a sexta cruzada, sem jamais cumprir o prometido. O Papa o excomungou. Finalmente, Frederico partiu rumo à Síria, em 1230, onde assinou um tratado de paz com o sultão do Egito. Segundo esse tratado, os cristãos receberiam as cidades santas de Jerusalém, Belém e Nazaré.
Em contrapartida, os cristãos reconheciam a liberdade de culto para os muçulmanos.
Por causa disso, o Papa o excomunga mais uma vez.

A decadência do Império

A partir desse momento, a luta entre Frederico e o Papa pela posse das cidades do norte da Itália tornou-se feroz. Guelfos (como eram chamados os partidários do Papa) e gibelinos (os partidários do Imperador) se esfaqueavam em todo o Império.
Em 1250, Frederico morre. Era o fim da intervenção do Império Germânico na península Itálica. O Império entrou em decadência. Durante trinta anos, os senhores feudais não permitiram a eleição de um novo imperador.

Exercícios

Exercício 1: Por que, durante o feudalismo, perdeu-se a noção de Estado?
Exercício 2: Destacar os poderes que eram exercidos pelos senhores feudais.
Exercício 3: O que foram as cruzadas?

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